quarta-feira, 9 de maio de 2007

Os dias de Dayan



Domingo, em convalescença, sem paciência para leituras exigentes. Dou comigo a ler o Diário da Campanha do Sinai, de Dayan. Este Diário reporta a primeira campanha do Sinai, em 1956, e foi publicado um ano antes da Guerra dos Seis Dias. Faz precisamente quarenta anos, para espanto do mundo inteiro, que uma nação de três milhões bateu em menos de uma semana a bazófia Nasser, um Mussolini de pacotilha, para mais socialista e títere do Kremlin . Aquela campanha relâmpago, preventiva e necessária ao tempo, foi um murro certeiro no prestígio que gozava a URSS no mundo árabe. Dayan, para além de genial estratega - comparam-no a Rommel - arqueólogo e político, era um excelente senhor da pluma. Controverso, carismático, infatigável e coerente até ao fim, era, afinal, um amante da verdadeira paz - sem concessões ao terrorismo e a ataques inopinados contra o seu povo - pois advogava a imediata devolução da Faixa de Gaza e da Margem Direita do Jordão aos árabes.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Lapso Lamentável

Miguel Portas e o Hezbollah

Via O Insurgente

David Oppenheimer, na Atlântico 26:
Mas é o Hezbollah quem verdadeiramente conquistou o coração de MP. A abordagem hagiográfica a Nasrallah transforma qualquer discurso do líder do movimento num exercício de sabedoria e moderação. O Xeque é citado à exaustão (p. 153). MP dá-lhe mais do que o benefício da dúvida – aceita e repete as ideias do líder do Hezbollah de forma quase naïf,enquanto todos os outros actores da região merecem uma abordagem céptica e crítica. MP, na ânsia de sentir empatia pelo inimigo figadal israelita, projecta um imaginário ideológico passé no conflito do Líbano.

(…)

Resumindo, este livro é mais um sintoma da tendência generalizada da Esquerda e da Direita europeias se alinharem de forma acéfala “contra” ou “a favor”de Israel – especialmente em Portugal. E o problema vai bem mais fundo do que o velho debate sobre pró e anti-americanismo.

Sara

Via A Natureza do Mal

A D. Quixote traduziu e o Ipsilão deste fim-de-semana entrevistou a autora, Tatiana de Rosnay. O livro relata um episódio triste da ocupação nazi da França. Em 16 e 17 de Julho de 1942 a polícia francesa prendeu milhares de judeus que levou para um pavilhão desportivo, o Velodrome d'Hiver. Aí começou uma tortura que acabaria em morte nos campos de Drancy e Auschwitz. A rusga da noite de 16 de Julho ficou conhecida pela Raffle du Vel d'Hiv, mas só há pouco tempo é do domínio público. Já o Rui Bebiano escreveu sobre isto, a propósito de um livro de história contemporânea. O que hoje sabemos sobre o Holocausto, sobre o colaboracionismo francês, sobre o comportamento do Exército Vermelho na marcha para Berlim e nos combates que levaram à queda e rendição do III Reich, é matéria de divulgação recente. (...)


Os polícias que levaram para o hipódromo famílias inteiras, os vizinhos que calaram, os que os enviaram para Drancy, onde Max Jacob morreu de inanição, os que conduziram os comboios, os guardas dos campos de extermínio, eram gente como nós. Gente como nós em situações excepcionais. É preciso perceber como se geram as circunstâncias excepcionais, como cresce a bestialidade, como se cria o clima que torna possível que o gendarme francês se transforme em verdugo. Há dias em que pensamos que somos todos judeus alemães, que somos todos berlinenses e nos orgulhamos do que somos. Mas somos todos polícias franceses. Quando reina o medo e a insegurança, quando há pouca comida, quando ressoa o silêncio nos jornais, quando aos mais fracos não é reconhecida toda a humanidade, nesses dias podemos ser todos polícias franceses, cumprindo exemplarmente as ordens do ocupante.