sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

BeShalah 5767




A divisão do Mar Vermelho é um acontecimento esculpido na memória do Povo Judaico. Até recitamos os versículos da Kiriat Iam Suf, todos os dias na oração a fim das Zemirot, os salmos de introdução a Shaharit, naquela que é comummente chamada Shirat HaIam, O cântico do Mar. Outra vez falamos dela depois da leitura do Shema Israel e antes da Amidá, a oração principal em Shaharit. Se pode dizer que foi o milagre supremo do êxodo do Egipto. Mas em que sentido?
Temos que pôr atenção as palavras da Torá, e podemos perceber principalmente duas perspectivas:
E os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco; e as águas foram-lhes qual muro à sua direita e à sua esquerda. (êxodo 14,22)
As águas, tornando, cobriram os carros e os cavaleiros, todo o exército de Faraó, que atrás deles havia entrado no mar; não ficou nem sequer um deles. (Ibid. 14,28)
Mas os filhos de Israel caminharam a pé enxuto pelo meio do mar; as águas foram-lhes qual muro à sua direita e à sua esquerda. (Ibid. 14,29)

A mesma coisa vê-se na Shirat HaIam:
Ao sopro dos teus narizes amontoaram-se as águas, as correntes pararam como montão; os abismos coalharam-se no coração do mar.(Ibid. 15,8)

A ênfase aqui é posta sobre as dimensões milagrosas do que aconteceu. A agua que geralmente flúi, estava direita com um muro; o mar abriu-se mostrando a terra seca. As leis da natureza forma suspensas temporariamente, alguma coisa aconteceu que não podia-se explicar cientificamente.

Mas a pôr mais atenção se pode reparar que há algo mais:
Então Moisés estendeu a mão sobre o mar; e o Senhor fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite, e fez do mar terra seca, e as águas foram divididas. (Ibid. 14,21)

Aqui não há uma mudança improvisa no comportamento da agua, sem causa especifica. D-us traz um vento que no curso de varias horas, faz dividir as águas.
Consideramos agora esse versículo:

Na vigília da manhã, o Senhor, na coluna do fogo e da nuvem, olhou para o campo dos egípcios, e alvoroçou o campo dos egípcios; embaraçou-lhes as rodas dos carros, e fê-los andar dificultosamente; de modo que os egípcios disseram: Fujamos de diante de Israel, porque o Senhor peleja por eles contra os egípcios. (Ibid. 14,24-25)

Aqui a ênfase é posta mais sobre um tipo de ironia que sobre o milagre. A especialidade dos Egípcios, que os fazia quase invulneráveis, era os carros e os cavalos. Até no período do Rei Salomão era assim:

Também ajuntou Salomão carros e cavaleiros, de sorte que tinha mil e quatrocentos carros e doze mil cavaleiros, e os distribuiu pelas cidades dos carros, e junto ao rei em Jerusalém. (Reis 1 10,26)
E subia e saía um carro do Egipto por seiscentos siclos de prata, e um cavalo por cento e cinqüenta; e assim, por intermédio desses mercadores, eram exportados para todos os reis dos heteus e para os reis da Síria. (Ibid. 10,29)

Olhando dessa perspectivas, os acontecimentos da nossa Parashá podem ser descritos da forma seguinte: Os Israelitas chegaram ao Mar Vermelho num ponto onde este era muito baixo. Talvez havia uma parte alta no leito do mar que geralmente era coberta pelas águas, mas que ocasionalmente, a causa do forte vento foi descoberta.
Assim escreve um famoso físico Colin Humpherys no livro “Os milagres do Êxodo”:

“Fluxos de vento são muito bem conhecidos pelos oceanógrafos. Por exemplo um forte vento que soprou no lago Erie, um dos Grandes Lagos, causou diferenças na elevação das aguas de quase 16 pés, no oeste e no leste dos Estados Unidos. Napoleão também, escreveu que foi quase morto por um “improviso e alto fluxo de águas” quando estava a atravessar uma parte seca no mar perto do Golfo de Suez.”

No caso do vento que descobriu uma zona alta do leito do mar, as consequências, foram dramáticas: De repente os Israelitas, andando a pé, tiveram uma vantagem imensa sobre os Egípcios com seus cavalos e carros. As rodas dos carros bloquearam-se na lama. Os soldados que conduziam os carros fizeram de tudo para sair dali, mas logo depois reparando que estavam a afundar mais na lama. O exército Egípcio não podia nem retirar-se nem avançar. Eram tão empenhados em liberar os carros da lama, e tão relutantes eram em deixar as suas preciosas máquinas de guerra, que não repararam que o vento fez voltar as águas. E quando reparam era já tarde para poder sair daquela armadilha. O soalho já se estava a encher de águas de todos os lados, e aquela ilha no meio do mar se estava a tornar mais pequena. O maior exercito da antiguidade foi perdeu, e os seus guerreiros afogados, não por um exercito superior nem pelo esforço de homens, mas por aquela mesma loucura que os fez concentrar só em capturar os Israelitas, sem reparar que estavam a andar na lama, onde os seus carros não podia ir.

Temos então duas formas de ver esses acontecimentos. Uma natural e uma milagrosa, super natural.
A explicação sobrenatural, a das águas que se levantaram como muros destruindo os egípcios, é extremamente potente e é por isso que se gravou na memória dos israelitas.
Mas a explicação “natural”, não é menos surpreendente: A força Egípcia ganhada pela sua mesma fraqueza. A fraqueza dos Israelitas, tornou-se a sua força. Desse ponto de vista, o aspecto sobrenatural é menos importante daquele moral. D-us castiga os pecadores, Ele goza com aqueles que gozam Dele. Ele mostrou ao exercito egípcio que os fracos eram fortes naquele dia – Exactamente como fez com Bilaam que se exaltava dos seus poderes profético e ao qual foi demonstrado que a sua mula - que podia ver o anjo enviado quando Bilaam não podia – tinha poderes maiores do que ele!!!
Em outras palavras, um milagre não é necessariamente uma coisa que para as leis da natureza. È as vezes um evento do qual pode haver uma explicação natural, mas, acontecendo quando, onde e como foi, nos deixa surpreendidos, assim que até a pessoa mais séptica sente que D-us interveio na historia. Os fracos são salvos, os que estavam em perigo postos em lugar seguro.

E mais significativo ainda é a mensagem moral que esse acontecimento nos ensina: a hubris é punida pela nemesis. O soberbo é humilhado, e o humilde exaltado, que há justiça na história, muitas vezes escondida mas também gloriosamente revelada.

Não todos os sábios judeus deram importância ao aspecto sobrenatural da intervenção Divina na história; O Rambam por exemplo escreveu.

“Os Israelitas não se acreditaram em Moisés a causa das milagres que cumpriu. (porque) Quando a fé de alguém é baseada sobre milagres, há sempre uma pequena duvida que esses milagres tinham estados cumpridos através da magia o da bruxaria. Todos os sinais que Moisés cumpriu no deserto, foram cumpridos porquê necessários e não para demonstrar as suas credenciais de profeta” (Hilchot Iessodé HaTorá 8, 1)

O Rambam diz então, que o que fez de Moisés o maior profeta não foram os milagres que cumpriu, mas que trouxe a Torá aos Israelitas, do Monte Sinai.
Doutro lado Ramban (Nachamanides) tem uma opinião um pouco diferente, enfatizando o fenómeno que ele chama um “milagre escondido”, um acontecimento que inclusive ficando nas regras da natureza, é incrivelmente surpreendente, como por exemplo a existência do universo, a nossa existência, etc.
Einstein dizia que D-us não joga a dados com o universo: A incrível complexidade da vida, a improbabilidade da existência (o que hoje chama-se o principio antropico), são fenómenos descobertos pela ciência e não desafiados por ela,
A genialidade da narrativa Bíblica, na história da passagem do Mar vermelho, está no feito que não resolve o fenómeno duma forma ou da outra, mas nos dá as duas perspectivas. Para alguns o milagre é a suspensão das leis da natureza, para outros o feito que haja uma explicação natural não faz do acontecimento algo menos milagroso:
Que os Israelitas chegaram ao mar exactamente quando houve aquele vento e abaixamento das águas, que o maior exército daquela época foi infamemente humilhado e ganhado…Todas essas coisas são milagres que nunca serão esquecidos.

Shabat Shalom e Tu BiShevat Sameah!!!!