segunda-feira, 2 de julho de 2007

Quem é judeu?

Por Júlio Silva Cunha, n`O Apaniguado

A lei judaica (halakhá) entende que é judeu, quem seja filho de mãe judia ou que ele próprio tenha-se convertido ao judaísmo.Esta é a definição clássica que os não-judeus facilmente assimilaram. Contudo, para a lei judaica existem outros requisitos.Para alguém poder ser considerado como filho de mãe judia, tem que provar que esta última não se converteu a outra religião.

Vamos ver o caso de Karl Marx. A mãe e o pai eram judeus. Antes do nascimento de Marx converteram-se ao luteranismo. Marx foi educado na religião luterana.Para os judeus e segundo a sua lei, Marx não era judeu. A mãe, antes do seu nascimento, converteu-se a outra religião.

Esta questão é essencial pois faz com que os filhos dsessa senhora não possam ser considerados judeus. Um judeu não pode ser judeu-luterano ou judeu-budista ou judeu-muçulmano. A definição faz-se pela adesão a uma única fé.Por outro lado, temos o caso da vontade pessoal e da conformação identitária do indivíduo; Marx sempre se afirmou como não judeu. Em jovem sempre se considerou como alemão e luterano, mais tarde simplesmente como socialista.

Mesmo que alguém tenha nascido judeu, se ao longo da vida se converter a outra religião, perde esse estatuto. Como dizia o Miguel Castelo Branco, estamos perante uma comunidade que não se fundamenta na raça mas na etnicidade. Etnicidade no sentido helénico - comunidade linguística, religiosa (o mesmo panteão), de valores morais e éticos - o que retira a ideia de raça (na sua dimensão de cor/pigmentação) ao judaísmo.Povo, enquanto comunidade de valores comuns, mas não de similitude racial. Nesse sentido, o judaísmo sempre foi pluri(racial).

O caso dos filhos de Hertzl é paradigmático do conceito de permanência judaica. Hertzl e a mulher eram sem dúvida alguma judeus. Sobre os filhos de ambos pesou a dúvida que tinham-se convertido ao cristianismo. O Estado de Israel tentou transladar o corpo dos filhos de Hertzl para Israel para poderem serem sepultados num cemitério judeu. Os rabinos chefes de Israel oposeram-se durante décadas a essa transladação enquanto não tivessem provas de que os filhos de Hertzl não se tinham convertido a outra religião.

Qual a razão de ser deste zelo?Num cemitério judaico só podem ser sepultadas pessoas dessa fé. Os "candidatos" podem ser loiros, negros, verdes ou às bolinhas, o que interessa é que sejam de religião judaica. Se são filhos de judeus, mas converteram-se a outra religião, jã não podem ser sepultados num cemitério judaico ou simplesmente serem considerados como judeus.A filiação faz-se pela partilha de valores religiosos e morais.

A pergunta para os liberais. A definição da identidade pessoal faz-se pelo próprio, pela tribo ou pela "comunidade nacional"(não judeus)?

Segundo as doutrinas de certos liberais lusos, a definição faz-se pela comunidade nacional. Assim, apesar do próprio Marx não se coniderar como judeu, a religião judaica não o ver como um dos seus, ele é judeu porque a comunidade nacional (os não judeus) assim o entendem.

O nazismo também aproximou-se desta definição - uma vez o sangue poluído por gotas semitas, para sempre judeu seria considerado.

O judaísmo não acredita no conceito puro e estrito do ius saguini, mas os goym (não judeus) acham o contrário! Que fazer?!

1 comentário:

Eliezer Shai disse...

Impecavel! Sobre tudoo aparte sobre Marx!!!!